segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Mirtilo dos Açores é espécie endémica com maior potencial económico

“A uva-da-serra corresponde muito provavelmente à espécie endémica dos Açores com maior potencial para contribuir para o desenvolvimento económico das ilhas”. Quem o afirma é a professora auxiliar da Universidade dos Açores, Maria João Pereira, que com vasta investigação na matéria tem sido uma das pessoas com maior dedicação a esta espécie.

É provavelmente um dos muitos achados açorianos, uma benesse e contribuição da natureza, que não sendo valorizado por todos tem sido salva pela estudo e perspicácia de poucos. O «Diário dos Açores» procurou perceber todas as qualidades e potencialidades da uva-da-serra e Maria João Pereira explicou um pouco da sua história, bem como aquilo que se tem feito na Região em torno desta espécie.

Conta Maria João Pereira que já em 1817, na revista ‘Rees’s Cyclopaedia’, Sir James Edward Smith botânico e fundador da ‘Linnean Society’, com base num exemplar de herbário sem frutos, atribui o nome científico de Vaccinium cylindraceum, à espécie nativa das montanhas dos Açores, localmente conhecida por uva-da-serra.

Do cientifico ao mais vulgar a uva-da-serra é conhecida por variadas denominações. A espécie é assim conhecida, também, por nomes como uva-do-monte, uva-do-mato, uveira ou romania no arquipélago. No continente português esta espécie é referida frequentemente como o mirtilo-dos-Açores. Segundo as explicações de Maria João Pereira “de facto, o fruto que produz é um mirtilo, este foi e ainda é, consumido fresco ou em compotas nos Açores. O género Vaccinium inclui também, para além da espécie açoriana, outras espécies exploradas comercialmente pelos seus frutos como a espécie europeia Vaccinium myrtillus L. (bilberry) e várias espécies americanas como o Vaccinium corymbosum L. (northern highbush blueberry) ou o Vaccinium angustifolium Aiton (lowbush blueberry)”, descreve.


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Mas muito se investigou e sobre esta espécie. A Universidade dos Açores, através dos investigadores do Departamento de Biologia desta academia levou a cabo um trabalho sobre a uva-da-serra permitindo descrever morfologicamente a espécie nas diferentes ilhas dos Açores, bem como conhecer o padrão de desenvolvimento dos arbustos e a sua biologia reprodutora. Os estudos realizados permitiram ainda caracterizar os processos germinativos das sementes de acordo com a sua origem geográfica e criar protocolos de produção em massa por técnicas de cultura in vitro.

E é aqui que entram outros intervenientes que contribuíram para outros tantos passos importantes. Segundo Maria João Pereira o “Departamento de Ciências Tecnológicas e Desenvolvimento da Universidade dos Açores contribuiu decisivamente para atestar a qualidade dos mirtilos-açorianos ao descobrir que estes são até mais ricos em compostos antioxidantes que os frutos comercializados de vaccinium myrtillus e vaccinium corymbosum”, mas também o “estabelecimento, pela Direcção de Serviços de Agricultura e Pecuária (Direcção Regional do Desenvolvimento Agrário), de um campo de cultura experimental nas Furnas com exemplares de uva-da-serra produzidos por cultura in vitro pelo Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, permitiu concluir que a plantação desta espécie a altitudes menores pode resultar na maturação dos frutos antes da época forte (Setembro) e que existem disponíveis medidas de controlo de pragas na produção do mirtilo-açoriano”.

Várias etapas que na sua conjuntura elucidam um cenário por explorar. Para Maria João Pereira sendo a “uva-da-serra uma espécie endémica dos Açores, pode também ser plantada fora da área da superfície agrícola útil e explorada de forma não intensiva. Trata-se de uma espécie de eleição, para a agricultura biológica e para a criação de produtos regionais certificados. Nesta perspectiva interessa investir e proteger o estabelecimento de campos de produção do mirtilo-açoriano e não produzir mirtilos de outras espécies já que ocorre a produção de híbridos férteis e a perda das características distintivas da espécie açoriana”. Factos são factos e os estudos assim os ditam. Os Açores têm assim uma riqueza por explorar, mas que embora tenho tudo para ser um factor contributivo para uma economia mais forte, e dividida em diferentes sectores, não tem sido, provavelmente muito aprofundada na prática.

Quanto às componentes e evidentes benefícios, a descrição dos atribuídos e possíveis “mercados” de integração desta espécie é feita por Maria João Pereira: “os mirtilos açorianos são fonte de vitamina C, compostos anticancerígenos e compostos auxiliadores da circulação vascular periférica, podem ser consumidos e comercializados, frescos e inteiros (para consumo directo, adição a iogurtes, gelados e confecção de sobremesas) ou sob a forma de polpa congelada, compota ou sumo. Secos, os mirtilos podem ser adicionados a misturas de cereais ou barritas de cereais. Os mirtilos-açorianos podem ainda ser utilizados para a extracção de produtos para a indústria alimentar (corantes naturais e compostos antioxidantes) e farmacêutica (cápsulas de antocianósidos-venotrópicos)”.


E porque não se trata apenas de uma introdução na indústria alimentar, o mirtilo-açoriano poderia ser muito bem utilizado para o bem-estar, para a saúde não só dos açorianos, mas se calhar uma mais-valia para a saúde dos portugueses… “As folhas e os frutos de várias espécies Vaccinium são referidos nos manuais de plantas medicinais como coadjuvantes no tratamento de problemas vasculares, diarreias, flatulência, parasitoses intestinais, infecções urinárias, inflamações da boca e da laringe. As farmácias e ervanárias possuem vários produtos com extractos de mirtilo. Nos Açores os frutos, macerados ou não em aguardente, eram usados para tratar ‘dores de barriga’”, explica Maria João Pereira.

Os Açores, não fossem os estudos e trabalhos de campo terem já comprovado a utilização benéfica desta espécie, já reconheceram, à sua maneira, a uva-da-serra até porque se trata, “ainda”, de uma valorização ambiental. Como refere Maria João Pereira “esta espécie encerra ainda um valor ambiental importante, foi já usada na recuperação de zonas protegidas (projecto Life-Priolo), mas deve o seu uso ser intensificado na revegetação de áreas erodidas e recuperação de antigas pedreiras, na protecção das linhas de água e lagoas na ornamentação de taludes de estrada, miradouros e parques de lazer. Actualmente esta espécie é produzida por cultura in vitro e semente no Departamento de Biologia da Universidade dos Açores e por semente no âmbito do projecto Laurissilva sustentável (LIFE 07 NAT/P/000630)”.


Notícia: «Diário dos Açores».
Saudações florentinas!!

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