quarta-feira, 22 de setembro de 2010

«Preto no Branco» #45

I - Que maravilha!
Dois dos sete prémios foram para os Açores, Região que ganhou o concurso em termos parciais e absolutos. É um marco importante para a afirmação do Arquipélago no Mundo, enquanto maior santuário natural do País e da Europa, e uma das relíquias da Biosfera. O Governo Regional empenhou-se muito neste concurso e o investimento foi uma aposta ganha. Desde 2003 que o autor destas linhas anda a defender que as 9 ilhas, ilhéus adjacentes, bem como o mar e os fundos marinhos, que lhes pertencem, deveriam ser classificadas, em conjunto, como Património Natural da Humanidade. É uma solução a la longue, a qual requer uma visão arrojada e desprendida de complexos de pequenez. A mesma pequenez que julga que grandeza é fazer nascer hotéis como cogumelos, e depois é vê-los “às moscas”, improvisando-se então pacotes turísticos de 3ª categoria, através dos quais quase se implora a hordas de turistas que venham encher essas infra-estruturas, enchendo-nos os olhos. A mesma pequenez que, descendo um degrau, não foi capaz de colocar as Flores entre as 7 Maravilhas de Portugal... caso será para dizer - “o que nos abunda em beleza falta-nos em sabedoria”.

II - Vai uma imperial?
Desconhecemos se a medida foi tomada em todas as festas de Verão que se realizaram nas Flores. Mas merece nota e registo o facto de, pelo menos na Festa de São João, ter sido estipulado pela autarquia que não poderiam ser vendidas nas tascas cerveja em garrafas de vidro, “impondo-se”, com toda a razão, a utilização dos barris de pressão. Curioso foi notar que toda a gente percebeu o alcance da medida e mostrou concordância com o sistema adoptado. É um bom exemplo, que deve ser seguido e alargado a outro tipo de bens de consumo. Todavia, em matéria de resíduos quase tudo está por fazer nesta Reserva da Biosfera. Nesta terra, continua a não haver um único ecoponto; separação de lixo, nem ouvir falar dela; há um único cartaz alusivo ao estatuto alcançado junto da UNESCO na esconsa sala de recolha de bagagens da Aerogare; exportação de papel, vidro e plásticos, isso continua a ser uma miragem; para a lavagem dos contentores, que tresandam, parece que falta água e sabão... enfim, é uma lista que nunca mais acaba... os principais responsáveis locais, caso precisem de aprender como se faz, não precisam de grandes deslocações ou conferências... basta ir ao Corvo e ver as medidas que ali estão a ser tomadas, isto, para não falarmos do incremento à utilização das energias renováveis, pois, se é certo que temos vento, também não é mentira que a ocidente também faz Sol.

III - O pão nosso de cada dia...
Não faltam entidades fiscalizadoras disto e daquilo. Para não falar da famosa ASAE, ele é Instituto para cá, Autoridade para lá, Inspecção disto, Serviço daquilo. A todos esses “corpos expedicionários” que também demandam a ilha das Flores de vez em quando, soma-se, muitas vezes, vamos dizer assim, “um agudo sentido de vigilância” da parte dos florentinos, os quais, na maioria dos casos, costumam saber de cor os números verdes ou azuis de todas esses organismos, e chega a ser impressionante o “sentido de cidadania” com que, por exemplo, o Sr. A liga para a Polícia a dizer que o canto do galo do Sr. B incomoda; que o Sr. C denuncia o Sr. D por que este apanhou uma espécie de pescado dois milímetros fora do tamanho permitido; que o Sr. E faz queixa do Sr. F por causa do bovino que comeu duas maçarocas no terreno alheio, e por aí fora... digamos que a ilha é um Big Brother notável em tudo quanto é miudeza. Ora, atentas as proporções, no que seria de esperar relativamente à escala da gravidade, é de espantar que não tenha havido ainda uma manifestação à porta da padaria! ... O pão da ilha das Flores anda literalmente intragável. Umas vezes é vendido cru, outras esturricado; uns dias não tem sal, outros é pilha; tanto apresenta no miolo bolas de farinha, como cavidades semelhantes à da Gruta dos Enxaréus. Por mim, acho que não há necessidade de reclamar para aqui ou para ali. Corria-se o risco da padaria ser fechada e era pior a emenda que o soneto. Bastará dizer, alto e bom som, que o que se passa é uma autêntica vergonha, e que basta de fazer porcaria!

Preto no Branco,
Ricardo Alves Gomes

6 comentários:

Pato Bravo disse...

Subscrevo inteiramente.
Que tenha muita força nos dedos para continuar a "teclar" desta maneira.

jota disse...

Foi mesmo "PRETO NO BRANCO".

Anónimo disse...

Que eu saiba, há várias padarias na ilha. Fala da «padaria», seria bom especificar.

MILHAFRE disse...

Há uma padaria onde o pão é sempre fresquinho, para além de ter grande variedade de produtos de padaria e pastelaria.

Ainda ontem comi com a famosa «linguiça do Braga», pois não havia pão de milho para acompanhar.

Também não havia vinho de cheiro, o que foi uma pena...

Anónimo disse...

Não havia pão de milho, no tempo em que eu me criava não havia era pão de trigo ou melhor havia mas era para aqueles que tinham ordenado certo no fim do mês e como era tão bom aquele pão de milho e bolo do tijolo em sopas e leite. Eu algumas vezes como sopas e leite mas o pão de mlho não é tão saboroso como aquele que eu comia.

Anónimo disse...

Um dia,não sei quando, compro um pão de milho fresquinho, duma padaria famosa de Toronto. Parto (no mesmo dia para as Flores) procuro o dr. Pardal,e iremos comer linguíça do Braga com pão de milho fresquinho de Toronto.

Oooops! Agora penso que, quando chegar ás Flores, o pão de milho já está duro,porque:ou da Terceira ou S.Miguel,tenho que fazer como o caranguejo:andar p'ra trás para chegar ás Flores.
Já não vou! Desisto da ideia.
DCA