As notícias do Pôr do Sol
José António e Nélia têm vindo a cozinhar um Pôr do Sol em cenário idílico na Fajãzinha. Um restaurante que está a tornar-se um chamariz florentino.
Já passava do meio-dia quando entramos no Pôr do Sol. Este restaurante da Fajãzinha, num alto virado ao mar, tem-se vindo a tornar um ícone da ilha das Flores e para tal contam vários factores. Juntam-se o enquadramento natural e a casa de pedra rodeada de flores e horta. Acrescenta-se o interior aconchegante onde pontuam pormenores da vida da ilha. Mistura-se tudo com uma ementa enriquecida por iguarias tradicionais da ilha das Flores.
Seriam ingredientes q.b., mas ainda faltam os principais: José Corvelo e Nélia Freitas, o casal proprietário, anfitriões de primeira e a que não falta iniciativa. “Eram umas casas em ruínas, recuperámos e ampliámos e fomos fazendo”, conta-nos José, resumindo todo o restaurante como uma “experiência cultural”.
Na sala, um caleidoscópio de peças, entre velhos serviços de mesa, fotografias e muitas peças de artesanato. Na nossa mesa, enchidos, morcelas, linguiça, inhame e mais há-de vir que as especialidades aqui são uma potência – do cozido de porco à feijoada, passando pelo peixe “ainda a saltar” , além das tortas de algas e as lapas.
Na cozinha, Nélia conta-nos que foi aprendendo “cozinha toda a vida” mas também “investigou o receituário tradicional, aquilo que se aprende e passa das avós, das mães”, reinventou alguns pratos, aprendeu técnicas velhas e novas – bom exemplo: pegou nas papas de milho tradicionais e cortou-as fritas às tirinhas, servindo de entrada.
Por aqui, quase tudo é produzido na horta ou na ilha das Flores, e na produção própria incluem-se também as vacas, porcos, galinhas. Os próprios enchidos são feitos na casa, do cuidar do animal ao fumeiro. “Tudo à antiga”, garantem-nos, para dar “aquele sabor de volta ao passado. Consola ver as pessoas felizes com a comida”, sorri Nélia.
José diz-nos que isto até começou como uma “brincadeira” mas está bem ciente de que o restaurante tem vindo a ganhar fama (ainda no outro dia era capa de livro de viagens gastronómicas de Paulo Salvador, da TVI). “No Verão não paramos” – já no Inverno abrem apenas aos fins-de-semana.
Nota-se-lhe o orgulho na casa mas, por estes dias, também uma certa tristeza. É que José foi o fundador e, durante 18 anos, responsável pelo que era o último jornal em papel da ilha, “O Monchique”. Acabou em Dezembro e Corvelo não esconde a tristeza. “Uma pena, era história da ilha”, lamenta. “Era como um filho”. Mas tristeza não pagam dívidas. Venha, sente-se à mesa do Pôr do Sol e fique a saber as novas da ilha das Flores de viva voz.
Crónica: edição especial do suplemento «Fugas» do «Público».
Saudações florentinas!!
Sem comentários:
Enviar um comentário